Quando o ciúme destrói o lar

Imaginação, fantasia; crença e certeza. Esses sentimentos afloram numa linha tênue, quando envolve o ciúme

Foi o sentimento de posse e a violência que não apenas separaram Patrícia Bernabé Vieira, 24 anos, de seu marido, mas a levou a tomar uma decisão radical: denunciá-lo à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Ela pretende formalizar perante à Justiça a separação de corpos e pedirá que o parceiro se mantenha distante dela e do filho, de cinco anos de idade.
Na segunda-feira passada, mostrou à polícia fotografias de uma mesa quebrada, objetos domésticos inutilizados e a expressão de pavor do filho em mais uma crise de briga e desconfiança do pai com relação à mãe.
O ato foi classificado por Patrícia como a última desavença do casal. "Cheguei a apanhar, fui espancada e isso acontece desde a gravidez", contou.
Desde os bebês até a vida adulta são visíveis os sinais do ciúme na vida da pessoa. No entanto, do status moderado para o patológico, muitas vezes se deixa um rastro de destruição de famílias, sofrimento de parceiros e parceiras e um desfecho, que não raro, termina em tragédia.
O ciúme que faz uma criança pelejar com o seu irmão ou tentar afastar o pai da mãe nem sempre é aquele que se desenvolve na vida adulta como uma doença. Aliás, que outra classificação se poderia dar para aquele ou aquela que mantém uma rotina de vigilância, onde não escapam as ligações que ficam no aparelho celular, mensagens e recados em redes sociais?
A pergunta é respondida pelo secretário regional Nordeste da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Anchieta Maciel, que nota o crescente aumento de pacientes nos consultórios, quando esse sentimento já "desarruma" famílias, perturba os filhos e os desenlaces de uma relação tornam-se os mais sombrios se a terapia falha.
Na verdade, crimes passionais não demonstram apenas a falha de uma terapia. Há que se levar em conta que em muitos casos, incluídos no processo crônico de desconfiança e sentimento de perda falham, a polícia, os centros de proteção da mulher e o Estado acabam arcando com o ônus dos conflitos.
Contudo, para Anchieta Maciel, é importante que se identifique os sinais do agravamento da enfermidade. Um desses sinais que serve como pista é a vigilância excessiva sobre o outro, um sintoma conhecido na psiquiatria como "transtorno de personalidade paranóide".
"São situações que vão além do ridículo e passam a ser absurdas, como não deixar que o parceiro respire", compara o psiquiatra. E reforça: "Se há a invasão do outro ou sinais de perseguição, é evidente que se trata de uma relação fadada ao fracasso".
Ele lembra que é grande o número de mulheres que buscam ajudam na psiquiatria, algo que é mais difícil no público masculino.
Sem ajuda da terapia, há ainda uma esperança de que o fim de uma relação não termine em homicídios e suicídios. Essa é a esperança de Patrícia, que junto com outras mulheres que procuram a DDM acreditam que há um resguardo da lei muito maior do que havia no passado.
As conhecidas segundas-feiras revelam um painel de como se evoluiu positivamente para se evitar a violência doméstica, embora essa permeie os lares, independente da condição social, intelectual e econômica.
Tanto a Polícia quanto a Justiça são unânimes em reconhecer que as mulheres passaram a denunciar mais os casos de violência doméstica e estão mais resguardadas pela Lei Maria da Penha. Além disso, há uma perspectiva de que delegacias especializadas aumentem ainda este ano na Capital e no Interior.

Controlador
"Vivi com um homem controlador. Ele destruiu objetos de casa porque eu havia batido o carro. No entanto, foi mais um pretexto do descontrole do homem que não pode mais viver ao meu lado e do nosso filho", observou Patrícia, que pediu para não ser fotografada na DDM.
Muitos sinais surgem quando se bisbilhota mensagens de telefones celulares, recados em sites de relacionamentos. Na quebra do sigilo, há meio caminho andado para se saber com quem, onde e quando se poder armar um flagrante. Muitos acontecem em frente a motéis, e, em escala menor, em restaurantes, casas de show e praças.



FONTE DIARIO DO NORDESTE

Comments (0)

Postar um comentário